quarta-feira, 18 de junho de 2014

Devolvendo com amor

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Hoje, após um ano e um mês após devolvermos nossa filha ao Senhor, gostaria de contar-lhes como foram os últimos dias em que cuidamos da Manuela. Em várias ocasiões tentei escrever, fiz rascunhos e até mesmo poesias para descrever como tudo aconteceu.

Ao ouvir uma canção, meu coração se encheu de saudade, em recordar dos detalhes de minha pequena e do milagre que vivi. Então me senti pronta para compartilhar os últimos momentos da Manuela comigo.

No começo de maio de de 2013 a Manu passou a necessitar de vários procedimentos para retirar um acúmulo de líquido de sua barriguinha, por vezes, mais de um por dia. Esse acúmulo a deixava muito instável. Ela precisava de altos parâmetros de ventilação mecânica e de sedação.

Eu estava ali com ela, sempre otimista. A cada novo procedimento eu orava e acreditava que seria o último, esperando o milagre de Deus.  Algumas semanas antes, a equipe médica tentou fazer o desmame dela de alguns sedativos e medicações na esperança de deixá-la mais desperta para poder vir para casa com um Home Care. Foram momentos de muita alegria e esperança para mim.

Mas na segunda semana de maio houve algo novo no organismo da Manu. Na manhã do dia 06 de maio, houve uma diminuição na quantidade de urina da Manuela. Todos ficamos muito assustados porque isso nunca havia acontecido. Na terça feira, ela passou o dia sem fazer xixi.Começaram a ser ministrados os medicamentos adequados, então na quarta feira ela voltou a ter uma quantidade maior de diurése.

Nesses terríveis dias, a minha pequena passou por muitos exames e inúmeras coletas diárias de sangue na tentativa de equilibrar os eletrólitos sanguíneos. Aquilo me machucava muito e eu já não confiava em mais ninguém para puncioná-la. Eu já não suportava mais. A cada novo exame eu chorava feito criança.

A equipe médica alertou a mim e ao Sidney da gravidade do quadro da pequena. Seu organismo estava debilitado e os rins já não estavam funcionando bem. Devido a falta de equilíbrio, ela não conseguia manter os níveis de sais (eletrólitos) corretos na corrente sanguínea. Eram feitas 4 ou 5 reposições de eletrólitos ao dia. Mesmo assim, o seu coraçãozinho poderia parar a qualquer momento.

Eu não mais conseguia estar ao lado dela tranquilamente. Eu chorava muito no leito e não confiava mais na equipe médica e de enfermagem. Me senti muito sozinha nesses dias.Contudo, embora ela estivesse muito grave, em nenhum momento eu acreditei que ali terminaria a nossa história.
Na quinta-feira, dia 9 de maio, ela teve uma melhora significativa. Voltou a fazer grandes quantidades de xixi. E minhas esperanças todas se renovaram.

Eu estava emocional e fisicamente esgotada. Sem banho há mais de 2 dias, estava visivelmente abatida. Eu não tinha mais forças para estar ali com a Manuela na UTIP. Então pedi que minha mãe viesse ficar com a Manu para mim.

Na sexta feira pela manhã dei-lhe aquele delicioso banho, perfumei-a, tirei fotos, cantei. Mamãe chegou por volta do meio dia, então fui para casa descansar.

Mamãe ficou com ela na sexta durante o dia e pela noite. Sempre me ligava contando as notícias. Manuela estava bem, estável. Até abriu os olhinhos para mamãe. Eu sei que aqueles momentos foram preciosos para minha mãe também. Manuela ganhou até um banho da vovó tão carinhosa e cuidadosa que Deus a deu.

No sábado de manhã era véspera do dia das mães. Uma amiga passou o dia com a Manu, e sempre nos mandava boas notícias de melhoras da pequena.

Meu coração ficou tranquilo e eu senti o descanso e o refrigério de Deus!

Em todo momento, em minha mente, eu dizia a mim mesma: "Estou recarregando minhas baterias pois a Manu precisa de uma mãe forte e otimista ao lado dela para que possa lutar". Naquele sábado, fui aproveitar o dia com o Miguel pois no Domingo, dia da mães, estaria na UTI com a Manu.

Eu, o Sid e o Miguel fomos a um lugar lindo, verde, com muita paz. Nós almoçamos e passamos a tarde pescando e deitados na grama cantando louvores ao Senhor com a família. Era uma paz "que excede todo entendimento", minhas preocupações naquele dia se foram. Eu simplesmente confiava em Deus. Desfrutei de um maravilhoso dia na presença de Deus.

No sábado a noite eu estava sentindo tanta alegria que transbordava no meu rosto em sorrisos. Não era a mesma Angela de dias antes, cansada, triste, desmotivada, desconfiada. Estava cheia de fé e força.

Cheguei na UTIP do Hospital Santa Helena com o Sidney, por volta da 20:00h no sábado a noite. Chegamos sorrindo, abraçados e unidos. Muito confiantes no Senhor Deus! Ao chegar na UTIP fui para o leito da pequenina, enquanto minha amiga "passava o plantão" para o Sidney do lado de fora.

Oh quão doce paz a presença de Deus nos trouxe ali!

Eu cheguei e fui direto abraçá-la, beijá-la, dengá-la. Cheia de saudade! Eu não via os tubos, não via as veias puncionadas, não via o monitor, nem o respirador. Não via nada! Somente vi o rostinho tão lindo dela, com os olhinhos abertos me esperando.

Eu me sentia tão feliz ao lado dela, e para mim estava tudo em paz novamente. O amor de Deus inundava aqulela UTI. Na minha boca havia tanto louvor! Eu falava com ela sorrindo! Sei que ela acordou somente para ficar comigo aqueles 30 minutinhos que sempre vou guardar no meio coração.
Eu estava pronta para mais dez mil batalhas!

Havia um clima de paz, força e gratidão que invadia a minha vida naquela hora. Nao sabia eu que aqueles seriam os nossos últimos momentos juntas. Não sabia eu que no dia seguinte minha pequena não mais estaria conosco, mas na eternidade com Jesus.

Meus amigos, Deus preparou aquele momento para mim e para minha filha. Foi lindo! Não tenho palavras para agradecer a Deus pela linda despedida que Deus me deu com minha amada Manuela.

Ela me olhava de ladinho, com aqueles olhinhos lindos dela. Me acompanhava com os olhos enquanto eu cantava e beijava seu rostinho, narizinho e bochechas! Nós cantamos uma linda canção que eu nunca havia cantado antes para ela. Deus me trouxe à memória uma musiquinha de criança, muito antiga, de minha infância.
Essa canção é a canção da vida e da despedida da Manu! Que doçura! Que amor o Espírito Santo derramou!

Eu sentia um calor tão gostoso como um abraço, e o ambiente era puro aconchego. Deus estava ao nosso lado e os anjos cantavam junto comigo!

Ficamos ali juntas naqueles momentos preciosos sem saber que era a nossa despedida.
Queridos, não derramei uma única lágrima sequer ali, cantamos sorrindo!  Os únicos sentimentos que me invadiam eram paz, amor, fé e gratidão.

Logo meu esposo veio para o Leito da Manu, e fui embora com minha amiga Valquoria. No carro nós conversamos sobre fé, cura e milagres. Imaginavamos grandes coisas que Deus poderia fazer. Milagres que sonhavamos ver acontecer.

Essa é a nossa canção:

Muito obrigado Jesus
Pela vida que me deu
Muito obrigado Jesus
Pela paz que me concedeu
Muito obrigado Jesus
Pois me amaste tanto assim
Muito obrigado Jesus
Pois tu morreste por mim

Muito obrigado Jesus
Por mais este dia tão lindo
Muito obrigado Jesus
Pelos trabalhos que fiz
Muito obrigado Jesus
Pela saúde também
Muito obrigado Jesus
Pela felicidade, Amém!

Muito obrigado Jesus
Pela felicidade, Amém !

Meu esposo então veio para o Leito da Manu e passou com ela a noite. Ele pode ficar com a pequenina e estar do lado dela no momento da sua partida, que foi algo inesperado, por uma parada cardiorrespiratória, as 6:00 h da manhã do dia seguinte.

Mesmo em uma história de muitas lutas e sofrimento, vejo que Deus agia em nosso favor. Não permitiu que nos faltasse nada, principlamente fé e amor. Agradeço a Deus pela oportunidade que tive de ser mãe da Manu, e cuidar dela nos dias que Deus a deu para viver. Jamais serei a mesma e sei que a história de amor da vida da minha filha tocou e tocará muitos corações.

 

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